Resposta alemã às Pilsner tchecas
Origem:
Alemanha
Data:
1894
A disputa por fatias de mercado acontece em qualquer segmento, e no universo cervejeiro não seria diferente, nem algo recente. Inclusive, alguns estilos foram criados exatamente para concorrer com outros já existentes e populares. Um desses casos é o da Munich Helles.
A cidade de Pilsen, na República Tcheca, foi o berço do estilo Pilsner em 1842. Essa cerveja foi um marco na história cervejeira, considerada inovadora e revolucionária para a época devido ao seu método de produção e por apresentar características até então não vistas nas brejas.
Diferente das tradicionais cervejas marrons, turvas e cheias de sedimentos produzidas até então, a Pilsner surgiu como uma bebida de baixa fermentação, de líquido translúcido e coloração dourada brilhante, sendo muito mais atraente visualmente, refrescante e de alta drinkability. O resultado foi uma avalanche no mercado e o estilo tomou conta dos bares de maneira arrebatadora.
Aquele fenômeno, obviamente, chamou atenção de cervejarias e cervejeiros de outras regiões, incluindo dos alemães que prepararam uma resposta rápida. No ano de 1894, a cervejaria Spaten, localizada até hoje na cidade de Munique, criou um estilo para bater de frente com as Pilsners tchecas: a Munich Helles, que numa tradução literal significa “clara de Munique”.
A criação alemã trouxe frescor e leveza para os nossos copos, mas os primeiros passos da Hell (como também é conhecida) não foi fácil nem dentro de casa. Cervejeiros e consumidores mais conservadores ofereceram grande resistência para a popularização do novo estilo alemão. Inclusive, há boatos de que a associação de cervejeiros de Munique cogitou proibir a comercialização de cervejas claras.
Mas a bebida refrescante, saborosa e fácil de beber proporcionava uma experiência muito agradável e, aos poucos, a Munich Helles foi ganhando seu espaço, principalmente nos biergartens da região da Baviera, que são jardins e praças arborizados e abertos ao público para o consumo de cervejas e pratos locais.
E assim a Helles caiu no gosto dos alemães, apresentando o mesmo potencial de expansão da sua concorrente tcheca e desbancando a Dunkel como a breja queridinha do sul da Alemanha.
Atualmente, é o estilo mais consumido no país bávaro, com forte presença em diversas regiões do país e em eventos cervejeiros, especialmente a Oktoberfest – maior e mais famoso festival de cerveja do planeta.
Como vimos, a Helles tem uma relação de criação direta com a Pilsner e comparações entre esses estilos é natural, principalmente quando o assunto são experiências sensoriais. Nesse sentido, a grande diferença está no destaque a determinados ingredientes que cada um desses estilos oferece.
Basicamente, podemos definir a “clara de Munique” como uma Lager (baixa fermentação) de coloração amarela-clara a dourada com espuma branca cremosa e persistente. Ela tem perfil mais maltado do que a Pilsner, que por sua vez dá mais destaque para as características do lúpulo. Além disso, a Hell costuma ser um pouco mais encorpada do que a Pilsner.
Em uma Helles podemos esperar aromas e sabores de grãos e panificação. O dulçor é aparente e pode ser predominante, mas jamais excessivo. Ela não é uma cerveja “doce”. Para evitar isso, o lúpulo aparece de maneira sutil trazendo toques condimentados, florais ou herbais – além do leve amargor que tem o propósito de equilibrar esse dulçor do malte.
De carbonatação média, corpo médio, final seco e teor alcoólico que vai de 4,7% a 5,4%, a Hell é uma cerveja leve, refrescante e muito fácil de ser bebida. Alguns dos rótulos mais tradicionais deste estilo são Augustiner Lagerbier Hell, Hofbräu Original e Paulaner Münchner Hell. Um exemplar brasileiro muito bacana é a Bamberg Helles, premiada em diversos concursos cervejeiros internacionais ao longo dos anos.
Uma Munich Helles, assim como uma Pilsner, não vai proporcionar a você nenhuma degustação “extravagante”. Mas beber um rótulo desse estilo é sempre uma experiência saborosa e refrescante.
COPO SUGERIDO:
Pilsner
TEMPERATURA IDEAL:
4 a 8°C
Assim como outros estilos, a Munich Helles não demanda um procedimento específico ou “ritualizado” para ser servida. Dessa forma, para preencher o seu copo basta servi-la da maneira convencional.
Para isso, basta posicionar o copo levemente inclinado, com cerca de 45º, e começar a despejar a cerveja nele. Quando o líquido atingir aproximadamente metade do copo, você pode retorná-lo para a posição vertical e terminar de preencher o recipiente.
A Hell possui carbonatação média, ou seja, tende a ter boa formação de espuma e ela deve aparecer no copo para que ajude a manter os aromas perceptíveis por mais tempo, além de retardar a oxidação do líquido.
Um dos tipos de copos ideais para o serviço da Munich Helles é o copo Pilsner, que possui formato alongado e estreito, com largura da base menor do que a da boca. Aqui no Brasil, esse copo é chamado popularmente como “tulipa”, contudo essa nomenclatura é de outro tipo de recipiente, muito diferente e destinado para cervejas mais complexas, como as belgas.
Esse desenho colabora com a formação e a retenção da espuma, além de favorecer a apreciação visual de cervejas claras e translúcidas, como são os casos da Hell e da Pilsner (que deu origem ao nome do copo).
Além disso, por ser uma breja leve e de alta drinkability, costuma-se servir a Munich Helles também em Caneca ou Mug (recipiente com capacidade de 1 litro), especialmente nos festivais cervejeiros em que o consumo da bebida é elevado e os brindes acontecem constantemente!
Frutos do mar
e peixes
batata assada
pretzel e salsicha
alemã
Tendo chegado até aqui, você deve ter assimilado que a Munich Helles é uma cerveja leve, refrescante e que explora aromas e sabores que são a base de qualquer cerveja.
O estilo pode ser um dos melhores para você conhecer e explorar aspectos sensoriais dos principais tipos de malte claro atuando em destaque e apenas com o suporte dos lúpulos.
Quando pensamos em harmonizações, toda essa “delicadeza” da Hell demanda combinação com pratos que acompanhem essas características, ou seja, receitas mais leves e frescas, mas que podem ser muito variadas. Assim como a Pilsner, ela pode ser usada como uma breja “coringa” para harmonizações mais práticas.
A partir disso, podemos combinar uma Helles muito bem com saladas compostas por folhas, legumes e frutas. Essa breja pode também ser uma bela acompanhante de pratos com batata principalmente quando assadas, como purês e quando servidas fritas como aperitivo, e ovos, sejam eles mexidos ou feitos como omelete.
A Helles pode compor ainda ótimas harmonizações com frutos do mar e peixes, incluindo camarão à milanesa, caranguejo, lagosta e bolinho de bacalhau. Outros pratos que podem ser servidos com a Munich Hell são cuscuz, milho cozido, quiche e sopa de legumes.
Não podemos esquecer ainda da harmonização cultural, quando uma bebida é costumeiramente consumida com pratos tradicionais, embora suas características fujam um pouco das orientações técnicas. No caso da Hell, temos pretzel e salsicha alemã branca, alimentos muito comuns na Oktoberfest, por exemplo.
Impressão Geral: Uma Lager alemã limpa, maltada, de cor dourada, com um sabor de grãos doces e um final suave e seco. Lúpulo bem sutil, que pode ser de perfil condimentado, floral ou herbal, de conteúdo amargo apenas para ajudar a manter o balanço maltado, mas não doce, o que ajuda esta cerveja ser uma bebida refrescante, para ser consumida todos os dias.
Aroma: Moderado aroma de maltes de grãos doces. Aroma de lúpulo baixo a moderadamente baixo, que pode ser condimentado, floral ou herbal. Embora um aroma limpo seja mais desejável, uma nota de pouca expressão de DMS ao fundo não chega a ser uma falha. Perfil de fermentação limpa, agradável, com malte dominando o equilíbrio. Os exemplares mais frescos tendem a ter mais aroma de malte doce.
Aparência: Cor de amarelo médio a palha. Limpa. Espuma branca cremosa e persistente.
Sabor: Inicia moderadamente maltada, sugerindo dulçor, um moderado sabor de malte granulado doce, com uma impressão suave e arredondada no palato suportada por um baixo para médio-baixo amargor de lúpulo. O final é suave e seco, sem percepção de carbonatação vívida ou efervescente. Baixo a moderadamente baixo sabor de lúpulo condimentado, floral ou herbal. Os Maltes dominam o lúpulo no palato, no final e no retrogosto, mas o lúpulo deve ser perceptível. Não deve haver nenhum dulçor residual, basta a impressão de malte com amargor muito suave. Exemplares muito frescos parecem mais doces devido ao caráter rico e fresco de malte que pode desaparecer com o tempo. Perfil de fermentação limpa.
Sensação de Boca: Corpo médio. Carbonatação média. Caráter Lager de intensidade macia.
Estatísticas Vitais:
OG: 1.044 – 1.048
FG: 1.006 – 1.012
IBUs: 16 – 22
SRM: 3 – 5
ABV: 4.7 – 5.4%