Vem para o lado Dark Strong do universo cervejeiro
Origem:
Bélgica
Data:
Sem definição exata
Bélgica, monastérios, cervejas. É quase impossível falar desses três assuntos separadamente. As Belgian Dark Strong Ales são produzidas tanto por monges de abadias (normais) como por religiosos da Ordem Trapista – até porque toda cerveja Trapista é de abadia, mas nem toda cerveja de abadia é uma Trapista, mas isso é assunto que você pode desbravar e entender no curso da Belgian Dubbel.
Esse estilo é um tanto misterioso porque não há muitas informações a respeito do surgimento propriamente dito, se resumindo a uma série de interpretações de cervejarias que faziam suas receitas e passavam suas brejas por processos de fervura, que duravam de 10 a 12 horas, muitas delas sendo maturadas por anos para depois serem misturadas com cervejas novas com o objetivo de realçar seu “sabor”. Porém, mesmo sem muitos relatos, é importante ressaltar que as produções dessas cervejas eram comuns na região de Mechelen, na Bélgica, uma cidade provinciana da Antuérpia.
Entender o “mistério” desse estilo e a variedade das cervas produzidas na Bélgica é um exercício e tanto, afinal ela é a “Disneylândia dos cervejeiros”, e lá tudo pode: ervas, especiarias (coentro, gengibre, etc) e todo tipo de adjunto que possa dar sabor à cerveja são bastante utilizados durante a produção. Essas brejas se destacam pela complexidade e, devido a isso, são consideradas “Patrimônio Imaterial da Humanidade pela UNESCO”. Que responsa essa hein?!
Abusar da criatividade para produzir as fermentadas é o que levou os cervejeiros belgas à fama e com isso há brejas de todos os tipos, das mais ácidas até as mais doces e alcoólicas. E um dos estilos de grande destaque da Escola Belga é o Belgian Dark Strong Ale, e mesmo com o nome em inglês dá para perceber que vem potência por aí. Esse estilo tende a ser perigoso, pois o alto teor alcoólico muitas vezes é imperceptível no paladar, o que pode levar a memoráveis bebedeiras.
Entre alguns mosteiros que produzem essa cerveja tão potente, aquele que mais se destaca é o de Saint-Sixtus, não só pela qualidade, mas porque lá é fabricado um dos rótulos mais consagrados (e mais difícil de comprar) do mundo todo: a Westvleteren 12. Mas para entender um pouco melhor sobre como tudo isso aconteceu é preciso voltar alguns anos na máquina do tempo.
Após o final da Segunda Guerra, o mosteiro de Saint-Sixtus procurava um parceiro para produzir suas receitas, e foi nessa oportunidade que a fábrica de queijos e cervejaria St. Bernardus passou a fabricar e comercializar as Westvleteren.
Porém (sim, estava faltando essa parte “triste” da história), em 1992 as regras para uma cerveja ser realmente considerada trapista ficaram ainda mais rigorosas, então isso fez com que a Saint-Sixtus voltasse a fabricar suas receitas no interior do mosteiro e a St. Bernardus passou de cervejaria trapista para cervejaria de abadia, passando a fabricar os rótulos com nome próprio, mas com a receita da Westvleteren como base.
Essa mudança toda foi de grande valia para ambos, afinal é ou não é uma responsabilidade e tanto ser sede do lugar que fabrica a melhor cerveja do mundo, segundo diversos mestres cervejeiros?! Essas cervejas são discretíssimas, produzidas em pequenas quantidades e suas garrafas sequer são rotuladas, a única forma de identificá-las é pela tampinha.
Você deve estar se perguntando, “tá, mas onde eu compro essa iguaria?”. Bom, até o ano de 2019 a única maneira para adquiri-las seria indo até a Bélgica (nada mal para uma trip cervejeira), mas por um “milagre” o serviço de e-commerce da cervejaria começou a operar, ops, da Abadia de Saint-Sixtu.
Se o assunto for sobre as classificações oficiais dos principais guias de estilo, a Quadrupel é a verdadeira causadora da discórdia cervejeira. Antes da última atualização, o guia BJCP rotulava a Quadrupel como Belgian Specialty Ale, mas depois da versão de 2015 ela passou a ser reconhecida apenas como Belgian Dark Strong Ale.
Já o guia do Brewers Association resolveu fazer de uma forma diferente, criando uma categoria só para elas. E, por fim, há o Beer Advocate, onde a maioria das cervejas consideradas “Quadrupel” caem na categoria Belgian Dark Strong Ale do BJCP. Caramba, que confusão!
Mas não se preocupe, pois toda essa bagunça dos guias de estilo e suas nomenclaturas é apenas uma questão que terá importância para quem produz cerveja e pretende inscrevê-la em concurso, então nesse caso é sempre bom dar aquela verificada antes em qual guia se baseiam as regras da competição. Para nós, que queremos apenas apreciá-las, o fato é que são brejas fantásticas!
Gosta de cerveja que desafia seus sentidos? Então é melhor tirar um tempo para degustar esse estilo. Aproveite para “criar” um ambiente bem bacana (entrar no clima é sempre bom), pegue caneta, papel e pronto, prove a Belgian Dark Strong Ale. Uma dica bacana é você fazer anotações do que vê e sente ao degustar esse líquido sagrado para comparar suas percepções se tiver a oportunidade de experimentá-la novamente. Mas, já adianto: não fique esperando apenas uma porrada do álcool, porque a surpresa vem a cada gole.
Uma cerveja escura, encorpada, complexa e destemida. De coloração âmbar-escura a marrom-acobreada e espuma que varia do creme ao bege. Apresenta (tanto no aroma como no sabor) o dulçor do malte predominante que remete ao caramelo e notas frutadas que lembram frutas secas, como uva passa e ameixa. No retrogosto (sabores e sensações que ficam na boca após o gole), apresentam um final levemente seco, aquecedor e adocicado
A Belgian Dark Strong Ale possui baixo amargor e apresenta aquecimento na sensação de boca devido ao alto teor alcoólico, mas que é muito bem equilibrado, o que é esperado para uma breja que vai de 8 a 11% de ABV (teor alcoólico).
A receita traz (nem sempre) uma mistura complexa de grãos, lúpulos ingleses, leveduras belgas (meio óbvio, né?) e o açúcar de cana ou beterraba para dar aquela elevada no teor alcoólico e secar bem a cerveja, embora também vale utilizar candi sugar ou açúcar caramelado para aumentar a complexidade de sabor e adicionar cor.
Essas cervejas são ótimas para causar impacto, elas são adocicadas e complexas no sabor e também possuem aromas com várias nuances interessantes. Perfeitas para o inverno e aqueles dias de queijos entre amigos (isso irá surpreendê-los), afinal essa é uma bela combinação para esses momentos.
COPO SUGERIDO:
Tulipa e Cálice
TEMPERATURA IDEAL:
10 a 13°C
Parte do prazer de beber bem está no “cerimonial” envolvido na hora de degustar uma boa cerveja, e não é da ostentação de um rótulo caro que eu estou falando, mas sim do copo e da forma correta de servir. Temperatura, copos e serviço são peças-chave para esse momento mágico, mas essa parte nem entra na questão simplesmente da etiqueta, vai além, porque pode comprometer a experiência de sabor e o prazer da degustação tão aguardada.
Quando falamos da Escola Belga então, isso é levado bem a sério. Na Bélgica, pelo menos nos pubs tradicionais, ninguém jamais irá servir a breja se não for no copo ideal para ela, visto que lá cada cervejaria tem um copo pensado para servir seus rótulos perfeitamente. Mas se você não mora na Bélgica, e para que o ato de beber cerveja também não se torne “chato”, vale a pena seguir essas próximas dicas para aproveitar ao máximo sua cerveja.
As Belgian Dark Strong Ales são cerveja para se beber bem devagar, usando taças de bojo e com boca larga, como as Tulipas de origem belga, ou se você quer fazer ainda mais bonito vale usar os copos no formato de Cálice das “cervejarias” trapistas e de abadia, que são extremamente elegantes e evocativos.
O serviço deve começar com o copo inclinado, porque assim você consegue despejar a cerveja suavemente pela lateral, diminuindo a turbulência e a velocidade do líquido, evitando a formação indevida de espuma, preservando a carbonatação e reduzindo a volatilização dos aromas. Quando enchido cerca de dois terços do copo, volte-o à posição normal e despeje o restante no centro até que o copo esteja reto, formando uma espuma de aproximadamente 1 a 2 cm, o famoso colarinho de “dois dedos”.
Ela não deve ser bebida muito gelada, pois, além de “congelar” as suas papilas gustativas, a baixa temperatura segura o desprendimento dos aromas e sabores. Por isso, a Belgian Dark Strong Ale idealmente deve ser servida em temperaturas entre 10 °C e 13 °C. Ah! Vale lembrar que as cervejas em garrafas grandes, aquelas que possuem rolhas, são as melhores para a guarda que, em condições ideais, podem resistir (e melhorar) por mais de 15 anos.
tábua de frios
pratos
levementes
apimentados
sobremesas
Para fazer uma boa harmonização de cervejas deve-se prestar atenção em algumas diretrizes que podem ajudar na busca da melhor combinação:
De início, é essencial ficar atento à intensidade tanto da breja quanto do alimento, pois as cervejas fortes devem ser harmonizadas com pratos intensos, e cervejas leves com alimentos igualmente sutis.
Depois, há basicamente duas formas de combinar os aromas e sabores: semelhança ou contraste:
Semelhança: o ideal é procurar na bebida e no alimento elementos parecidos. Eles geram uma combinação justamente por serem próximos, como o aroma do chocolate e de algumas cervejas escuras que remetem ao cacau.
Contraste: aqui busca-se elementos que contrastem, gerando efeitos sensoriais de atenuação ou incremento de sabores, que é o caso da doçura de um brownie de chocolate e o sutil amargor das cervejas de malte torrado.
Por ser uma cerveja potente, a Belgian Dark Strong Ale combina com carnes de caça, costela assada e pratos pesados, como um risoto ao funghi. Outras boas opções de harmonização são chocolates, bolo inglês de frutas e rum, mix de castanhas, além de sobremesas que levem frutas escuras. A dica final é experimentar várias combinações e, claro, levar sempre em conta o seu gosto pessoal. Acredite, a melhor e mais deliciosa forma de aprender é na prática.
Irish Stout
Impressão Geral:
Uma ale belga escura, complexa e muito forte, com uma deliciosa mistura de riqueza de maltes e sabores de frutas escuras e elementos condimentados. Complexa, rica, suave e perigosa. Aroma:
Aroma complexo, com uma presença ricamente doce de malte, ésteres significativos, álcool e uma qualidade condimentada leve a moderada. O malte é rico, forte e pode ter uma profunda qualidade de pão tostado, muitas vezes com uma complexidade de caramelo profunda. Os ésteres frutados vão de fortes a moderadamente baixos e podem conter notas de uvas passas, ameixas, cerejas secas, figos ou ameixas secas. Fenóis picantes podem estar presentes, mas geralmente têm uma qualidade apimentada e não de cravo; leve baunilha é possível. Os álcoois são suaves, picantes, perfumados e/ou de rosas, de baixa a moderada intensidade. O lúpulo não está geralmente presente (mas um muito baixo aroma condimentado, floral ou ervas é aceitável). Sem aromas de maltes escuros / malte torrado. Sem aromas de álcool quente ou solvente. Aparência:
Cor âmbar profundo a âmbar a marrom acobreado profundo (escuro neste contexto implica uma maior profundidade de cor do que o dourado). Espuma enorme, densa, muito cremosa e persistente, de leve bronzeado. Ela pode variar de límpida a um pouco turva. Sabor:
Semelhante ao aroma (aplicam os mesmos comentários sobre malte, ésteres, fenóis, álcool e lúpulos). Rico maltado moderado no palato, que pode dar uma nova impressão se o amargor é baixo. Normalmente, o final é moderadamente seco a seco, mas pode ser de até moderadamente doce. Amargor médio-baixo a moderado; com o álcool proporcionando algum equilíbrio ao malte. Geralmente com um balanço ricamente maltado, bem mesclado com o amargor. Os sabores complexos e variados devem misturar bem e harmoniosamente. O final não deve ser pesado ou de xarope. Sensação de Boca:
Alta carbonatação, mas não aguda. Suave, mas com evidente álcool. O corpo pode variar de médio-baixo a médio-alto e cremoso. A maioria é de corpo médio. Estatísticas Vitais:
OG: 1.075 – 1.110
FG: 1.010 – 1.024
IBUs: 20 – 35
SRM: 12 – 22
ABV: 8.0 – 12.0%