Cruzando oceanos e décadas
Origem:
EUA
Data:
Anos 70 e 80
Até o início do século XVIII, as cervejas eram em sua maioria de coloração escura, turvas e com a presença de características defumadas. Isso começou a mudar com a Revolução Industrial, quando surgiram equipamentos de aço e combustíveis líquidos para substituir a lenha e o carvão.
A partir de então foi possível controlar melhor a torrefação dos cereais, proporcionando a criação de maltes mais claros, e sem que a fumaça interferisse no sabor das brejas. Foi assim que surgiu, na Inglaterra, a chamada “Pale Ale” – que em uma tradução direta para o português significa “cerveja pálida”, e que você pode conferir mais detalhes no curso de English Pale Ale.
Esse estilo se popularizou a partir de meados dos anos 1800, mas acabou sendo deixado um pouco de lado com as Guerras Mundias e a consequente escassez de matérias-primas. A Pale Ale até chegou a ser produzida nos EUA, mas acabou não vingando muito na terra do Tio Sam – principalmente com a decretação da Lei Seca, que durou de 1920 a 1933.
Algumas décadas depois, ali por volta dos anos 70 e 80, um movimento iniciado na América do Norte resgatou a disseminação da cultura cervejeira e a produção de vários estilos clássicos, e claro que algumas vezes acrescentando uma pitada de “americanisse”. E uma das brejas reinventadas pelos americanos nessa Revolução Cervejeira foi a Pale Ale, que com o uso de insumos produzidos nos EUA ganhou características próprias e o nome de American Pale Ale ou simplesmente APA para os mais chegados.
Toma mais lúpulo
Nesse processo todo de resgate cervejeiro, uma das cervejarias norte-americanas pioneiras foi a Anchor, que criou a Liberty Ale, uma breja que voltava a explorar a técnica de dry hopping, que consiste em adicionar mais lúpulo ao líquido sagrado durante o processo de fermentação ou maturação, ressaltando aromas e sabores desse insumo.
Como era de se esperar, dosagens mais pesadas de lúpulo e aplicações de dry hopping (coisas que os americanos adoram fazer até hoje) também foram usadas nas receitas tradicionais de Pale Ale, originando como mencionamos anteriormente a American Pale Ale. O tiro certo foi dado pela Sierra Nevada em 15 de novembro de 1980 ao lançar sua releitura de Pale Ale, a qual é considerada por muitos cervejeiros como a breja que decretou a criação do estilo.
Descrever traços específicos de características sensoriais da American Pale Ale não é uma tarefa simples. Os insumos norte-americanos são bastante variados, especialmente os lúpulos, e a aplicação de técnicas como o dry hopping dão ao estilo uma ampla lista de possibilidades aromáticas, de sabor e de visual.
Por exemplo, de acordo com os principais guias de estilos, usados especialmente para realização de concursos, uma APA pode apresentar cores que vão do dourado-claro ao cobre, com tons alaranjados escuros. Ou seja: uma paleta de cor grande se comparada a de outros estilos.
Geralmente essas brejas são límpidas, mas aquelas que recebem dry hopping podem ter certa turbidez, com média formação de espuma branca ou bege-clara que tende a ter boa persistência, embora não muito prolongada. Na prática, isso significa que vai formar aquele colarinho bacana, mas que não vai durar tanto tempo.
Outra característica da American Pale Ale que varia bastante é o amargor, que pode apresentar níveis moderados a altos, muitas vezes inclusive sendo confundida com as amargas India Pale Ales e suas variações. O que é imprescindível nesse aspecto da APA é que o amargor seja evidente, ele precisa ser facilmente percebido mas que não vai obrigar ninguém a fazer caretas.
Quando falamos de aromas e sabores, são os lúpulos (as estrelas dessa categoria) que determinam o que vamos encontrar no nosso copo, o que também pode ser bastante variado. Contudo, de maneira geral, as APAs apresentam notas cítricas, florais, de frutas tropicais, resinosas e, em alguns casos, leve picância de especiarias. O malte aqui é coadjuvante e atua para trazer equilíbrio à breja com nuances de panificação e grãos, além de um pouco de dulçor.
A American Pale Ale possui teor alcoólico moderado (4,5% a 6,2% de ABV) e a alta carbonatação, aliada às características dos lúpulos, ajuda a promover uma breja que passa sensação de leveza e frescor. O que isso significa? Que dá pra beber muita APA sem dar aquela “empapuçada”.
COPO SUGERIDO:
Pint e Caneca
TEMPERATURA IDEAL:
De 7 a 10°C
Sem rodeios e sem frescuras. Servir uma American Pale Ale não exige técnicas mirabolantes para preencher o copo com o líquido sagrado. Basta seguir a boa e velha técnica de dar aquela leve inclinada no início do serviço. Esse método consiste em:
Incline o copo a, aproximadamente, 45º (deixando ele na diagonal)
Comece a despejar a breja até encher 2/3 dele
Reposicione o copo na vertical
Termine de preenchê-lo
Agora é só curtir sua cerveja
! Os dois modelos de copo mais indicados para degustar a APA são a Caneca e o Pint. O primeiro deles é um recipiente robusto, cilíndrico, alto e que possui alça lateral para facilitar a sua vida na hora de segurá-lo, já que pode receber até 1 litro de breja.
O Pint também possui sua estrutura cilíndrica, mas com formato de cone, ou seja, com a base mais estreita que sua boca. Esse modelo possui duas variações tradicionais: o Pint Americano, que possui 473 ml de armazenamento, e o Pint Inglês, capaz de armazenar 568 ml.
esse é um modelo muito comum na Alemanha, inclusive em épocas de Oktoberfest. A caneca possui uma alça que é perfeita e ajuda a evitar que o calor da mão aqueça na cerveja. Geralmente sua capacidade é de 1 litro e tende a ser robusta, grande, pesada, além das mais diversas formas.
rabada
crème brulée
Pavê
Como explicamos no tópico de características sensoriais, a American Pale Ale é uma cerveja com ampla variedade de aromas e sabores. Consequentemente, este é um estilo bastante versátil quando o assunto é harmonização.
O fato de a APA ser uma breja relativamente leve, que passa uma sensação de frescor, e traz muitas vezes notas cítricas e frutadas, faz com que ela proporcione uma bela combinação com pratos leves e que levam frutas.
Contudo, aqueles rótulos do estilo com teor alcoólico um pouco mais elevado ou amargor mais acentuado, acompanham muito bem pratos mais carregados no tempero e levemente gordurosos. Não podemos esquecer que a APA tem uma base maltada que aparece, e isso pode ajudar a equilibrar pratos com uma pimentinha a mais na receita.
O importante na harmonização de uma American Pale Ale é conhecer a breja, ou seja, descobrir primeiro quais são suas características aromáticas e de sabor, bem como a intensidade de amargor e teor alcoólico, para conseguir equilibrar bem o potencial da cerveja com o do alimento.
Impressão Geral: Uma clara, refrescante e lupulada Ale, contudo com malte de apoio suficiente para fazer uma cerveja equilibrada e de drinkability. A presença de lúpulos limpos pode refletir clássicos ou modernos varietais de lúpulos americanos ou do Novo Mundo com uma vasta gama de características. Uma intensidade média de lúpulos transmitida por cervejas artesanais claras americanas está presente, geralmente balanceada para ser mais acessível que as modernas American IPAs.
Aroma: Moderado a forte aroma de varietais de lúpulos americanos ou do Novo Mundo, com uma vasta gama de possíveis características, incluindo cítricos, floral, pinho, resina, especiarias, frutas tropicais, frutas de caroço, berries, ou melão. Nenhuma dessas características específicas são necessárias, mas o lúpulo deve ser aparente. Baixo a moderado maltado dá sustentação à apresentação dos lúpulos e pode mostrar, opcionalmente, pequenas quantidades de caráter de maltes especiais (de pão, torradas, biscoito, caramelo). Ésteres frutados variam de moderado a nenhum. Dry hopping (se usado) pode adicionar notas de grama verde, embora este caráter não deve ser excessivo.
Aparência: Dourado claro a âmbar claro. Moderadamente volumosa espuma branca para bege claro, com boa retenção. Geralmente bastante límpida, embora as versões com dry-hopped podem ser um pouco turvas.
Sabor: Moderado a alto sabor de lúpulos, geralmente indicando um caráter de lúpulos americanos ou Novo Mundo (cítrico, floral, pinho, resinoso, picante, frutas tropicais, frutas de caroço, berries, melão, etc.). Baixo a moderado caráter granulado-maltado limpo dá sustentação à apresentação dos lúpulos, e pode mostrar, opcionalmente, pequenas quantidades de caráter de maltes especiais (de pão, torradas, biscoito). O balanço é normalmente em direção final aos lúpulos e amargor, mas a presença de malte deve ser sólida, não perdida ao fundo. Os sabores de caramelo são muitas vezes ausentes ou bastante restritos (mas são aceitáveis, desde que eles não colidam e atenuem a presença dos lúpulos). Ésteres frutados de levedura podem ser moderado a nenhum, embora muitos varietais de lúpulos são bastante frutados. Moderado a alto amargor de lúpulo com um final semi-seco a seco. Sabor de lúpulo e de amargor, muitas vezes permanece no final, mas o retrogosto geralmente deve ser limpo e sem aspereza (harsh). Dry hopping (se usado) pode adicionar notas de grama cortada, embora este caráter não deve ser excessivo.
Sensação de Boca: Corpo médio-baixo a médio. Moderada a alta carbonatação. Final geralmente macio, sem adstringência e aspereza.
Estatística Vital:
OG: 1045 – 1060
FG: 1010 – 1015
IBU: 30 - 50
SRM: 5 - 10
ABV: 4,5 - 6,2%