Você já deve ter ouvido falar de Vleteren, uma cidade belga que fica na região de Flandres. Essa é uma ótima opção de estadia para visitar dois clássicos do mundo cervejeiro: a cervejaria St. Bernardus e o mosteiro trapista Saint Sixtus, que produz as tão sonhadas Westvleteren. O que acaba escapando aos olhos de muitos visitantes desta pequena província é outra beldade: a cervejaria De Struise. Esta cervejaria é bem conhecida por fabricar excelentes rótulos nos estilos saison, quadrupel e winter ales, mas fazem também diversas maluquices fora do padrão belga. Na minha primeira ocasião em Vleteren deixei essa oportunidade escapar e desta vez estava convicto que seria diferente.
Estava hospedado em uma espécie de estalagem no meio das fazendas da região. Depois de passar a noite conversando com os anfitriões, com direito a degustação de Westvleteren seguida de uma bela noite de sono, pulei cedo da cama para o grande dia. Estava ansioso porque já havia tomado ótimos rótulos da cervejaria De Struise e não me conformava com o fato de já ter passado por lá sem saber que ali estava uma cervejaria que tanto admirava.
A agenda cervejeira começava com uma visita de médico na St Bernardus. Era inverno e muitos estabelecimentos estavam fechados, incluindo algumas cervejarias. Então já sabíamos que seria apenas uma visita aperitivo, com direito a algumas fotos para preencher um pouco mais o coração cervejeiro fanático. E assim foi. Pode parecer estranho, mas a sensação de visitar, mesmo que por fora e de portas fechadas, uma cervejaria que você tanto gosta é maravilhosa.
Fotos tiradas, coração médio acalmado, seguimos pelas fazendas. Agora sim, em direção à cervejaria De Struise. Já estava no final da manhã, mas a cervejaria só abria às 14h00. Então a malandragem foi parar no ‘t Molenhof, um restaurante que fica muito próximo à cervejaria e onde sabia que seria possível degustar os rótulos dela, quase direto da fonte.
Entramos. O ambiente era o de um perfeito restaurante belga: muita madeira com a peculiar decoração cervejeira que esbanja alegria. Como se fosse um bar que lembra um restaurante, ou um restaurante que lembra um bar. Para minha surpresa, não só tinham os rótulos da De Struise, mas também de várias outras cervejarias da região. Como estávamos em dois casais cervejeiros, pedimos nove rótulos para degustação. Repito: nove rótulos. Blonde, Dubbel, Tripel, duas Quadruppel, Oud Bruin, Brett Ale, IPA Sour e Barleywine foram os estilos que vieram à mesa, totalizando oito cervejarias. Fizemos um mini concurso na mesa e, apesar de todas as cervejas estarem magníficas, a Novice Black Tripel (Brouwerij Malheur) ficou em primeiro, seguida da La Thiriez Triple (Brasserie Thiriez) e Oud Bruin Oak Leaf (Brouwerij ‘t Verzet). Para acompanhar, saboreamos o prato da casa: mignon ao molho de cerveja com batatas fritas belgas, que estava tão saboroso quanto o nosso concurso.
De dentro do restaurante era possível ver a cervejaria De Struise e finalizado o torneiro de cervejas, digo, o almoço, foi só atravessar a rua. No caminho, foto na placa indicando o vilarejo Westvleteren.
A entrada da cervejaria é bem simples e se você não souber jura que está entrando em uma casa. Mas logo que passa a fachada principal, já se depara com duas fileiras de barris formando um corredor. Um pouco a frente, mais barris. Em volta das mesas, mais barris. Muito legal! O clima estava formado.
Mas eu queria mesmo era degustar as cervejas experimentais que não chegam no Brasil. Fui até o tap room. Muito simples e super acolhedor! Tive a impressão que somente os “Vleterenianos” estavam lá. Fui atendido pelo cervejeiro. Conversamos sobre suas cervejas experimentais. Estava a milhares de quilómetros de casa, mas ainda assim com um enorme sentimento de ser local! Nas torneiras, muita coisa diferente que não imaginava encontrar. Eram cervejas que não foram engarrafadas, pois saem em lotes muito pequenos. Resolvemos fazer outro concurso, com outros nove rótulos (repito: nove rótulos), todos da De Struise. Degustamos uma Witbier, uma APA, duas Blonde, duas Tripel, mas o que realmente ganhou o dia foi a Young Ypres – Flanders Red Ale, a Pannepot Reserva Maker’s Mark Barrel Aged 2017 – Quadrupel envelhecida no barril de whisky e, principalmente, com gritos de louvor, a Pannepot Reserva Wild Turkey Barrel Aged 2014 – Quadrupel também envelhecida no barril de whisky.
Cervejas realmente especiais e inesquecíveis, escondidas em uma pequena cervejaria em um pequeno vilarejo. Depois dessa degustação tão única, me restou ir até o mosteiro Saint Sixtus agradecer e terminar o dia no In de Vedre. Mas essa já é outra história. Até mais!>