De Halve Mann – A meia-lua de Bruges
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Considerada a Veneza belga, Bruges é uma cidade absolutamente encantadora. O clima úmido – muito provavelmente em função dos canais que cortam a cidade –, somado ao frio que sempre dá um jeito de aparecer, criam uma atmosfera aconchegante e convidativa à degustação do líquido sagrado. E é bem no centro dessa cidade, que já foi um grande polo comercial da Europa na idade média, que fica a cervejaria De Halve Mann, ou meia-lua em português.
Quando agendei a visita, ainda no planejamento da viagem em 2015, época em que não se encontrava fácil os rótulos por aqui, o intuito era apenas o de aproveitar uma janela na programação dos passeios, afinal, uma cervejaria bem no centro da cidade não devia ser grande coisa. Assim, marquei a visita para o começo da manhã de um domingo.
A tímida entrada da cervejaria é apenas mais uma das várias fachadas ao redor da pracinha que estava repleta de mesas com turistas fazendo seu café da manhã. Porém, logo que entrei já fui surpreendido por um acolhedor pátio com várias mesas ao ar livre, uma linda loja de bugigangas cervejeiras e o acesso ao restaurante e cervejaria. No alto, em um pavimento acima, tanques de inox que já começavam a trazer aquele ar de visita cervejeira. Pelo jeito aquela tímida fachada escondia muita coisa.
O surpreendente acontece
Não deu nem tempo de assimilar tudo e uma simpática senhora nos abordou informando com um entusiasmo nunca visto que seria a guia da visitação. O início se deu ali no pátio de entrada, com breve explicação da história da cervejaria que começou suas atividades em 1856 naquele mesmo local. De lá para cá a produção aumentou tanto que foi construída outra planta a 3,2 km de distância, onde é concentrado todo o envase da cerveja produzida na fábrica central. O líquido é enviado para lá por meio de um “cervejoduto”: um duto subterrâneo que leva a cerveja pronta de uma instalação até outra.
Você conhece a cerveja Brugse Zot?
A visitação começou pela parte nova com explicações super detalhadas do processo fabril e da cultura belga. Foi uma aula de como fazer e como tomar cerveja. Naquele dia aprendi que, para o belga, a cerveja não é apenas a bebida – alcoólica – mais saborosa do planeta, é também um importante alimento na mesa daquele país. E mais, tão importante quanto fazer uma excelente cerveja, é servi-la no copo ou taça específico para aquela cerveja.
Na sequência fomos às instalações antigas da De Halve Maan. Algumas realmente antigas e que servem de história, outras ainda em utilização. Passamos por tanques de inox, tanques horizontais, tanques verticais e tanques de fermentação aberta. Em cada canto que passávamos, ganhávamos uma aula de cultura belga da senhorinha que respirava cerveja. Por fim, passamos por algumas escadas antigas de madeira que mal cabia uma pessoa para chegarmos ao gran finale da visita: o terraço da cervejaria. Lá em cima, enquanto apreciávamos a linda vista panorâmica de Bruges, a guia falou de forma emocionante sobre as cervejas trapistas e nos lembrou que a cada gole de uma cerveja feita por monges você está praticando, de certo modo, caridade.
Fechando com chave de ouro
Depois dessa imersão na cultura belgo-cervejeira, o almoço que eu havia planejado em outro lugar foi automaticamente transferido para o restaurante da De Halve Mann. E valeu a pena. Além de ter todas as cervejas da casa no cardápio, a cozinha é fantástica.
O tour dava cortesia a uma degustação e escolhi iniciar pela Brugse Zot Blond, uma autêntica Belgian Blond que abriu bem o apetite. Enquanto aguardava o prato, emendei na Dubbel da casa, a Brugse Zot Dubbel. Ambas, evidentemente, na taça da cervejaria. E para harmonizar com o ensopado de carne flamengo, degustei a Straffe Hendrik Tripel, linha de rótulos que, junto com a Quadrupel, foi lançada em homenagem aos diversos "Henri" da família Maes que comandaram a cervejaria desde sua fundação. De Halve Mann
Queria muito ter saboreado essa Quadrupel e ainda a Blanche de Bruges, mas a tarde acabava de começar e eu ainda tinha uma série de passeios pela cidade e visita ao bar Trappisten Cafe a noite. Então, para compensar, passei na lojinha e levei taça, camiseta e a Straffe Hendrik Heritage: a quadrupel em uma edição limitada que passa por envelhecimento em barril de carvalho. A garrafa é numerada e vem em caixa de madeira. Finesse pura. A loja ainda tinha uma ótima variedade de produtos e rótulos de diversas cervejarias e, como de praxe, acabei comprando mais do que devia.
E assim terminei aquela que seria uma visita despretensiosa em uma cervejaria local e segui feliz para os passeios turísticos de domingo à tarde. Bélgica, infindável país de surpresas cervejeiras.
Até a próxima. Santé!>